A manipulação do barro é uma das atividades mais antigas já exploradas pela humanidade. Ele permite dar forma a objetos pelos mais diversificados meios que a imaginação e a criatividade humana possam permitir. Reflete a cultura de um povo, suas tradições costumes e crenças. As peças de cerâmica são utilitárias e/ou decorativas, dependendo do momento, local ou apelo pessoal. Seus vasos são confeccionados por inúmeros e longínquos povos que atribuem a eles as mais diversas funções, seja para a manipulação de alimentos, transporte, armazenamento, como urnas funerárias, objetos litúrgicos ou mesmo decorativos. Certos utensílios registram uso já na Pré-história; sua técnica de queima e vitrificação datam do Egito Antigo; porém, ganhou outra dimensão, para os padrões decorativos, na Grécia Antiga, com os vasos gregos que, tematizados, consagraram um estilo.
O barro percorre um longo caminho passando pela queima até o consumo. Podendo ainda ser empregado a ele fins medicinais. Para a produção de artefatos, é utilizado o tipo argiloso que sofre alterações rochosas do elemento químico feldspato e alumínio. É o mais apropriado para a modelagem, torna-se mais plástico, à medida que é manipulado, e ganha grande resistência e impermeabilidade com a queima. Propriedade que lhe confere um grau diferenciado de sonoridade ao toque da peça.
A argila é geralmente encontrada nas margens de rios, localizada há até um metro de profundidade, ela é extraída aos poucos, formando bolas que posteriormente serão deslocadas para as olarias, onde serão “tratadas”, libertas de impurezas (pedras, galhos) que podem ser catados com o auxílio de um teque – ferramentas geralmente feitas de madeira ou plástico que servem para desbastar, furar, dar forma ao barro. Retirando estas impurezas, evita-se que os trabalhos se quebrem antes da secagem e de ir ao forno. O próximo passo é a sovagem do barro, quando é posta à prova sua liga e plasticidade, cada artesão encontra uma forma particular realizar essa atividade. Esta atividade foi realizada repetidas vezes pelos artesãos Delza Rodrigues e Adnomar Moreira, artesãos do Centro de Arte Japiaçu.
A argila permite diferentes formas de manuseio: através de um torno, em olarias; com a modelação utilizando teques, suas principais ferramentas. Além dos teques o corte também pode ser feito com o garrote, um arame, geralmente de aço fino, cujas extremidades estão presas a pequenos pedaços de madeira.
Para manusear a argila deve-se preparar o local, usar uma mesa forrada com tecido grosso. Ter um recipiente com água à mão, uma esponja usada para armazenar água necessária à limpeza das ferramentas e umedecer a peça, e dispor de uma diversidade de marcadores que o artista usa livremente para auxiliar na decoração.
Na confecção de potes usa-se a serpentina ou rolo, uma técnica muito antiga, mas ainda hoje utilizada para a construção das “paredes” de peças de barro. As serpentinas são colocadas umas por cima das outras e alisadas com o auxilio do torço das mãos ou pedaços de borracha. É comum o uso da barbotina – argila sob a forma mais liquefeita - para “colar” pedaços de argila nas peças, com alças ou enfeites.
Na técnica da lastra, há o intermédio de um rolo de madeira, o mesmo usado para estirar massas, que tem como função estender o barro. É uma técnica geralmente usada para a execução de peças em barro de forma cúbica ou cilíndrica. Com o auxílio de pequenas tábuas e do rolo de madeira executa-se a lastra de barro que terá a espessura igual à altura das tábuas. Este procedimento era utilizado para a confecção das “bolachas”, bases para azulejos.
Numa peça recém modelada, há infinitas possibilidades de decoração ao aplicar as seguintes técnicas: Incisões; Aplicações; Marcações; Polimento; Engobe... A incisão consiste em cortar ou riscar uma peça com o auxílio de teques ou pequenas facas pontiagudas, agindo com a peça ainda úmida. É comum se fazer marcação ou estampagem com a utilização de carimbos que marcam a peça segundo um desenho previamente elaborado.
A secagem segue um processo lento. Antes de serem cozidas, as peças devem ter perdido a maior quantidade possível de água, mas sem estar diretamente exposta ao sol. Somente depois de seca deve ser direcionada ao forno, onde são organizadas com espaço entre si. O forno possui sua temperatura graduada, a primeira cozedura de uma peça de barro chama-se chacotagem. É durante esta operação que se liberta toda a água que não foi libertada pela secagem, quando pode ser feita a vitrificação. Mas leva-se em consideração, ainda, a procedência ou o tipo do barro. A peça pode ser levada ao forno mais uma vez ao optar pela vitrificação. A pintura permite modificar o aspecto de uma peça. A tinta é a mistura de vidro em pó com água ou com um óleo que depois de cozido pode dar um aspecto brilhante ou mate às peças já chacotadas. A calda pode ser aplicada com o auxilio de um pincel.
A argila dá forma a qualquer material, incorporando o aspecto que queremos em peças como tijolos e telhas, azulejos, utensílios domésticos, esculturas e “estudos” para outras técnicas como esculpir o mármore e modelos para forjar o bronze. Este é um dos motivos da cerâmica ganhar a classificação de “arte menor”, ao ser subordinada à etapa de confecção para outros materiais ou ser tradicionalmente confeccionada por artesãos, sem a “erudição” necessária ao status de artista.
Francisca Costa – Funcionária do Centro de Arte Japiaçu.
BARGALLÓ, Eva. Atlas básico de história da arte. São Paulo. Escala Educacional: 2008.
MOREIRA, Adnomar. Depoimentos do artesão sobre a extração da argila na cidade de Rosário, MA, cidade que produz cerâmica em larga escala. Em 20 de janeiro de 2011.
RODRIGUES, Delza. Depoimentos da artesã sobre o tratamento, modelagem e queima das peças de argila, além de sua extração na cidade de Humberto de Campos, MA. Em 11 de fevereiro de 2011.